quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Jefté Sacrificou a sua filha, ou Não ?



Jefté Sacrificou a sua filha, ou Não ? - Jz 11.29-40


Estudiosos Bíblicos abordam este tema em duas frentes, até porque o assunto nos dá esse entendimento. Se nos atermos ao princípio da expressão ou sentido literal do texto, não é tão difícil chegarmos a um consenso.

Jefté em hebreu, significa Javé abre e Liberta

Quem foi Jefté ? - Jefté foi um dos Juízes de Israel por 6 anos, tendo como grande conquista, a libertação do seu povo da opressão dos Amonitas.

Era um valente guerreiro, filho de uma prostituta. Seu pai chamava-se Galaad. Outros filhos de Galaad tempos depois, expulsaram Jefté da convivência familiar, sob o argumento de que ele não deveria ter parte na herança da família, por ser filho de uma mulher que não era a mãe deles, o que causou um conflito familiar intenso. A solução foi Jefté deixar a sua família, e se refugiar em Tob, onde se juntou a um grupo de pessoas nada adminável – vadios que passaram a segui-lo.

Como a vida dá voltas, mais tarde os Amonitas entraram em guerra contra Israel, e os líderes de Gallad foram buscar justamente Jefté em Tob, para ser o comandante militar deles, contra os inimigos agressores. A coisa havia mudado de figura. 

A rejeição de antes, havia se transformado em respeito e dependência, essas coisas que somente Deus faz.

Um voto precipitado, diante de uma necessidade Urgente – O desafio de Jefté era grande, e a saída que ele encontrou antes de partir para o embate, foi fazer um voto ao Senhor; caso ele retornasse para casa vitorioso, o primeiro ser que saísse pela porta de sua casa, ao seu encontro, seria oferecido em holocausto ao Senhor. Jz 11.30-31
Vers. 30 E Jefté fez um voto ao Senhor, e disse : Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão,

Vers. 31 Aquilo que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto.

Há duas linhas de interpretação desse texto :

1.1       O texto não deixa dúvida, quanto ao voto de Jefté, ao prometer ao Senhor a primeira pessoa que saísse à porta de sua casa ao seu encontro, caso ele voltasse vencedor do combate com os Amonitas.
Ele disse : “Essa pessoa será do Senhor, e eu a oferecei em holocausto”. Assim votou Jefté.
Se trouxermos esse texto para uma Exegese mais profunda, logo observaremos que faz-se necessário entender antes, por exemplo, o que significa holocausto, e qual era a posição de Deus em relação a sacrifícios humanos.

Holocausto – Era o lugar onde se oferecia a Deus um sacrifício. Sempre se sacrificava animais, por isso não faltava lenta e fogo. Ao final, esse sacrifício terminava em cinzas. No caso de Abraão e Isaque, Gn 22,01-14, Deus providenciou uma vítima para substituir Isaque. Na época de Salomão aconteciam tais sacrifícios humanos praticados pelas suas mulheres vindas do estrangeiro, e que moravam no chamado “Monte do Escândalo”, situado à frente do templo.

Os Amonitas, inimigos de Israel naquele combate, praticavam sacrifício humano :
2 Rs 03.27 Então tomou a seu filho primogênito, que havia de reinar em seu lugar, e o ofereceu em holocausto sobre o muro; pelo que houve grande indignação em Israel; por isso retiraram-se dele, e voltaram para a sua terra”,

Os Israelitas também o faziam : 2 Rs 21.06 E até fez passar a seu filho pelo fogo, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro e ordenou adivinhos e feiticeiros; e prosseguiu em fazer o que era mau aos olhos do Senhor, para o provocar à ira.

A lei entretanto, proibia tais práticas :

Dt 12.31 Assim não farás ao Senhor teu Deus; porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele odeia, fizeram eles a seus deuses; pois até seus filhos e suas filhas queimaram no fogo aos seus deuses.

Nota : Esses sacrifícios com vítimas humanas, eram oferecidos sempre antes dos combates, nunca depois. Com esses dados, contextualizando este fato à luz da compreensão e práticas da época, somos levados a uma segunda análise :  

1.2       Exegetas entendem que o sacrifício a que foi submetida a moça, se referia a sua virgindade.  Segundo a lei de Moisés, aquele que se dirigisse a Deus, e lhe fizesse um voto, deveria cumpri-lo. Jefté foi imprudente ao fazer tal voto, e condenar a sua própria filha a viver uma vida de celibato.
Por esta interpretação, Jefté não matou a sua filha, e sim, a condenou a viver uma vida celibatária até a sua morte, permanecendo virgem para sempre.
Quem defende esta tese, conclui que não houve sacrifício humano nenhum, até porque o texto não dá mais detalhes sobre isto.

OUTRO PONTO DE DISCURSÃO é a questão da tradução, onde pode ter havido um erro – falo na tradução para o português, na escrita da conjunção “e, que, substituída pela conjunção “ou, mudaria todo sentido da frase.
Assim a tradução seria “ou” se dedicaria ao Senhor, “ou” seria oferecida em holocausto. Não parece correto, recomendável e sobretudo cristão, alguém oferecer a vida de outro em sacrifício a Deus, já que segui-lo é algo que deve ser espontâneo, livre, resultado de uma decisão única e exclusivamente pessoal de quem deseja fazê-lo.

Eu particularmente fico com a segunda linha de interpretação, mesmo respeitando quem defenda outro entendimento.

Que Deus nos abençoe, e que esta palavra seja aplicada em nosso coração, como uma semente de Benção.

PASTOR EDUARDO SILVA



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